por Pedro A. Duarte*
Compartilhar experiências na elaboração de políticas baseadas em serviços ecossistêmicos com o intuito de criar uma rede de cientistas coprodutores nesta área. Esse foi o objetivo do simpósio Unindo Serviços Ecossistêmicos e Elaboração de Políticas: Coprodução na interface entre ciência e prática, organizado pelas pesquisadoras do Biota Síntese Patricia Ruggiero e Nathália Nascimento. Realizado durante a 4ª Conferência Internacional da Ecosystem Services Partnership (ESP) Latino-Americana e Caribenha, no Chile, o simpósio teve apresentação e debate de sete trabalhos selecionados pelas organizadoras a partir de uma pré-seleção de 15 propostas feita pela organização da ESP. “Esse processo foi interessante porque percebemos que coprodução é um conceito ainda complexo e que abrange uma gama de experiências”, comenta Nathália.
O foco do simpósio foi a discussão dos serviços ecossistêmicos, considerando evidências que contribuem para valoração de serviços; a necessidade de manejo e conservação de ambientes naturais promotores desses serviços; e a necessidade de sua inserção em políticas públicas por toda a América Latina. A maioria dos trabalhos apresentou experiências de manejo ou conservação de algum recurso nas quais houve a participação de pessoas de diversos grupos.
Patrícia apresentou o trabalho “Identificando maneiras de pensar a co-produção entre cientistas e formuladores de políticas utilizando a Metodologia Q”, no qual relatou o processo de reflexão e discussão que embasou a formulação do entendimento de coprodução do Biota Síntese, considerando as diferentes perspectivas dentro do projeto. “Levei nossa experiência [no BS] ao apresentar as formas de pensar coprodução, uma discussão que fizemos durante uma imersão do projeto”, ela explicou.
Já o trabalho de Nathália, intitulado “Coprodução na formulação de políticas climáticas: enfrentando seus desafios e promovendo impacto no estado de São Paulo – Brasil”, tratou da experiência na produção de mapeamento de carbono na interface academia e governo paulista. “Destaquei como principais benefícios o espaço que a academia teve na esfera do governo e a possibilidade de se ter um produto revisado e com rigor científico”, conta. Entre os desafios, ela colocou em evidência problemas relacionados ao cronograma político, que não segue as etapas metodológicas, e o tempo de validação de resultados pela academia e vice-versa, lembrando ainda dos cuidados necessários com a falsa expectativa.
Outro destaque foi a apresentação do pesquisador colombiano Gabriel Alejandro Perilla, da Pontificia Universidad Javeriana. O trabalho “Quanto mais compartilhamos, mais conhecemos: a modelagem colaborativa entre contribuições da natureza e cidadania local com o objetivo de elaborar políticas públicas” focou na experiência sobre manejo de um rio localizado em uma área densamente povoada na cidade de Montería, próximo ao litoral norte da Colômbia. O projeto conduzido por Perilla desenvolveu uma forma de gestão e proteção do rio que corta a cidade, buscando sensibilizar a população local sobre a importância dos serviços ecossistêmicos providos e a importância de não o canalizar. Para Patrícia, esta apresentação estimulou as pesquisadoras a estruturarem uma possível parceria com a agência envolvida no projeto de Gabriel.
Outro ponto positivo dessa experiência de organizarem o simpósio na 4ª edição da ESP Latino-Americana e Caribenha foi a interação com pessoas de diversas nacionalidades e instituições brasileiras. “O simpósio foi uma excelente oportunidade para conhecer diferentes pontos de vista e experiências com a denominação de ‘coprodução de conhecimento’. Isso é muito importante para projetos como o Biota Síntese, que têm nesse conceito um de seus pilares”, Nathalia pontuou.
Patrícia defende que a realização de congressos transdisciplinares de qualidade como o ESP é algo necessário e que vem ganhando espaço: “Esse congresso do ESP tem se mostrado um espaço bom na medida em que existem outras participações, não só a de cientistas. Temos o pessoal que vem da academia, das Universidades; mas uma grande proporção das pessoas vem de órgãos do governo, de ONGs e até da iniciativa privada.”
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*Pedro A. Duarte é formado em Jornalismo pela FAAP. Está cursando a pós-graduação em Jornalismo Científico pelo Labjor Unicamp e faz estágio no Biota Síntese por meio da bolsa Mídia Ciência de Jornalismo Científico concedida pela FAPESP.