Biota Síntese articula a pesquisa com 27 organizações parceiras. Lançado em São Paulo, pretende restaurar 1 milhão e meio de hectares de vegetação com economia de base florestal, entre outros desafios.
Coordenado pela Universidade de São Paulo e pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, o projeto Biota Síntese articula 27 instituições de pesquisa para enfrentar seis desafios: agricultura sustentável, polinização, economia de base florestal, controle de zoonoses, saúde em cidades e o desafio transversal da coprodução de políticas públicas.
Seu nome completo é Biota Síntese – Núcleo de Análise e Síntese de Soluções Baseadas na Natureza. O projeto integra os Centros de Ciência para o Desenvolvimento da Fapesp. Sediado no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, preenche uma lacuna no Brasil. “Centros de síntese na área de ecologia já existem nos Estados Unidos e na Europa há décadas. Buscam a pesquisa interdisciplinar e funcionam como incubadoras de novas ideias”, explica Jean Paul Metzger, professor do Instituto de Biociências (IB) da USP e diretor do Biota Síntese.
O local serve como um facilitador para a reunião de grupos heterogêneos: “A ideia é que profissionais de diferentes áreas se afastem do pensamento lógico que existe dentro de suas disciplinas para confrontar como outros enxergam os mesmos problemas. A partir do enfrentamento de diversos olhares encontraremos novas soluções”, explica o diretor.
Não se trata apenas de agrupar e revisar dados científicos, mas sim de uma metodologia que permite ressignificar dados já coletados, permitindo a geração de novas ideias, modelos, paradigmas e teorias.
Outro aspecto inovador é a promoção de sínteses voltadas para o embasamento de políticas públicas, prática rara em núcleos de pesquisa semelhantes. O Biota Síntese atende demandas feitas por órgãos do governo do estado de São Paulo, especialmente a secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, a secretaria da Agricultura e a secretaria Especial da Saúde.
Uma ação central do projeto é a restauração de 1 milhão e meio de hectares de floresta produtiva. A proposta de economia de base florestal pretende explorar o potencial da mata atlântica, principalmente frutas e fibras.
Luiz Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, uma das 27 organizações apoiadores do projeto, reiterou: “A ambição é conectar conhecimento para influenciar políticas públicas, fundamentais no contexto da emergência climática. Existe um descompasso entre esses mundos que precisa ser enfrentado”, argumentou.
Outro desafio é a prevenção de zoonoses, problemática especialmente urgente após a pandemia de covid e do novo surto de dengue no Brasil. “Nós percebemos com a pandemia que o nosso bem estar está ligado a um equilíbrio ambiental e que a saúde do ambiente onde vivemos está ligada a nossa própria. Com um desequilíbrio ambiental, as chances de problemas relacionados ao transbordamento de patógenos que vem dos animais crescem consideravelmente”, argumenta Jean Paul Metzger.
O projeto investiga o potencial de processos que ocorrem na natureza para criar soluções ou prevenir a transmissão de zoonoses. “Em estudos que já desenvolvemos antes, conseguimos mostrar que áreas de Mata Atlântica bem preservadas e com maior biodiversidade são áreas com menos hospedeiros ou reservatórios de doenças que podem ser transmitidas para humanos”, explica. No surto de febre amarela, em 2018, o Biota Síntese traçou o caminho percorrido pelo vírus no Estado de São Paulo para comprovar que blocos florestais funcionam como barreiras contra a propagação espacial da covid.
“Pelo estudo da paisagem é possível criar desenhos espaciais mais resistentes a fluxos de patógenos que podem nos afetar. Podemos utilizar para o nosso proveito uma natureza bem preservada”, explica. A solução não está apenas em aumentar a quantidade de florestas, mas em criar paisagens mais saudáveis. “Quanto mais preservado é o ambiente, com um bom equilíbrio de espécies, onde não há o domínio de uma espécie que pode ser reservatório de algum patógeno, melhor”, conclui.
O projeto Biota Síntese terá financiamento da Fapesp até 2027 e, a partir daí, pretende se tornar independente por meio de múltiplos financiamentos.
Republicado do portal OUTRASAÚDE